segunda-feira, 2 de março de 2009

ROSTO

“Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a tua pele.”
Morreste-me, José Luís Peixoto

Se tivesses procurado um rosto durante toda a tua vida e o tivesses encontrado. Encontraste-o. Se soubesses que depois de o encontrar, terias um só dia para continuar a viver – começar a morrer. Que farias com o rosto encontrado? Se te fosse dada a possibilidade de escolheres entre as mãos, o coração ou o rosto e tivesses de voltar atrás nos teus desejos, ainda escolherias - hoje - o rosto?
E se o Rosto te desiludisse? Se cada linha da pele tivesse sido a escrita da ilusão – nas mãos do criador? Partirias com as mãos cheias de tudo ou com o sabor do nada no coração?
Se o rosto que acabaste de encontrar - o teu objectivo encetado – corresponde aos teus ideais projectados na tela da tua existência, durante anos - tempos pretéritos no mais que presente – chega agora até ti: sentes que terás atingido, com êxito, o teu objectivo?
Sentes-te feliz - desconhecendo a felicidade - mas sabes que o teu fim está perto: sempre soubeste que só tinhas um dia de vida depois de teres alcançado esse desejo: vês viver – quando começas a morrer – a pergunta em ti: Será a Morte o ladrão da tua felicidade, o que vem roubar o tempo que possas passar com o teu objectivo? Ou permitir-te-á, a mesma – morte – a abertura de novas portas, ainda que desconhecidas?
E se no último minuto do fim da tua vida - começo da morte - encontrares um rosto perfeito: um rosto maior que o rosto que objectivaste toda a tua vida? Partirás feliz sem o teres sentido, mas por o teres visto – saberes que existe? Que viveu nos limites da Vida e da Morte?

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