sexta-feira, 6 de março de 2009

BAILARINA MORTA: és.

“Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.” Antídoto, José Luís Peixoto

A Bailarina despiu-se para a primeira dança. Hoje senti a tua nudez: dançavas num livro. Estavas morta: ainda estás. Chora um Anjo a tua morte: descosem-se as linhas do arco- íris. Ágape sobrevoa agora os teus sentidos, os meus sentidos: os teus sentidos em mim. Dormes - no eterno viver – já tão cansada da dança ilusória dos sentimentos náufragos. Quem te pintou o Ser? Quem ousou desenhar-te? Quem se aventurou meter-te no meio dos livros – dançando, apenas, quando uma Alma os toca? Pobre: és pobre. Não danças quando queres. Nem quando o teu interior pede: és marioneta – falsa bailarina – nas mãos de quem deseja tocar nas páginas do que sentiste. As letras são passos de dança, sentidos. Mas só são sentidos os passos, da Bailarina, quando ela dança no seio dos livros: com o seio do seu sentir. Sempre que uma Alma toca a bailarina morta: ela dança, uma dança imortal. Debaixo da pele, nesse sarcófago dos teus sentidos, envolves as memórias de outras danças: o desencanto do não vivido, a ausência dolorosa e amarga do não sentido.
Foram danças de ilusão: as que dançaste em vida – junto de corações errantes.

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