domingo, 8 de março de 2009

A Anunciação da Morte: Fim dos dias – Noite.

“Disse: chega devagar, mas vem; aproxima-se e será um dia infinito, uma noite eterna, um instante parado que não será um instante; e os assuntos grandes serão menores…”
Nenhum Olhar, José Luís Peixoto

Esperam-te as cores da vida – infinitos tons na tez do Ser, tela do viver - para o teu dia: julgamento final.
Esse véu que todos dias envergaste já nada pode.
Aproxima-se, passos lentos, sem piedade: aquela que te vem ceifar o existir. Já sinto os Milhafres, afugentados – deste vale curto – e com medo: sinto-te Morte. Foi uma rápida visita: a tua. Anunciaste que voltarás, dentro de escassos dias, para mostrar que o negro tudo pode: medo, escuridão, vazio? A Morte exige preparação:

(Confessa-te: na voz do Padre.)
(Parte com um sorriso – não irás só -: na voz do Poeta.)
(Resigna-te aos desejos: despeja-te deles: na voz do Buda.)

Nem o Padre, nem o Buda nem o fingimento do Poeta – tentando ludibriar a morte – sabem que a morte é para ti um desejo: vida eterna – vida para além da vida. Só tu sabes as cores que a tua Alma tem e quem nela queres deixar entrar.
A Morte é um sopro de maresia: alivia as dores dos que nada temem. Daqueles: do tu ou dos muitos eu em ti - máscaras que só tu vês no espelho – moradores na tua Alma: pedintes, navegantes ou meros vagabundos de vidas errantes ou sôfregas que, apenas, desejam Paz.
Eis a Anunciação da Morte pelo Anjo negro: o que te roubará os dias. Prepara o teu Ser: escolhe os nomes que levarás nas mãos, sobe aos pícaros mais altos da Terra: mostra, em vida, a tua dor – partirás mais leve.
(Não te confesses.)
(Não leves sorrisos: solta lágrimas.)

(Não recuses desejos: deseja – sempre – o que mais ninguém ousa desejar.)
Não são vozes que te dirão o que hás-de ou não fazer. Sejas tu mesmo: descalço e com dor, no vale sombrio que te receberá: esquece os outros.
Esperam-te as cores da Vida – infinitos tons na tez do Ser, tela do viver: na Morte.

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