segunda-feira, 30 de março de 2009

O HERDEIRO DE MEDUSA

“O amor é o sangue do sol dentro do sol. Algo dentro de qualquer coisa profunda.”
Uma casa na escuridão, José Luís Peixoto
À noite quando todos dormiam ouvi um piar de mocho: anunciou-me a tua queda. Cansaste-te de procurar o Amor, Anjo caído?
São três as ninfas que te seguram nessa imensidão escura que agora és. Do outro lado do rio subterrâneo que às vezes tenho dentro de mim é dia, os Anjos cantam: um chora. Apenas um. O Anjo que chora por ti. É um Anjo na Terra, Anjo de pedra – herdeiro de Medusa.
É de pedra o Anjo que não sente o teu toque, que não sibila o teu saber, que não enche o teu ser. E são de ouro as lágrimas do Anjo que chora – chora por não ser a pedra que te segura nas quedas. Chora por ser a pedra que te tirou a Vida, Anjo caído. Chora por ter nascido do sangue que o herói fez jorrar. Chora pela incapacidade de amar. Chora por herança: a infelicidade de mãe: incapaz de uma só vez o olhar.

E cada vez que o Anjo cai modifica-se a pergunta: deixa o Homem de perguntar: “Quem sou eu?” e passa a perguntar: “O que eu não sou?”.

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