segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Taça das PALAVRAS

“Lugar, não há algum, vamos para trás e para a frente, e nenhum lugar existe.” Santo Agostinho

Escolher meia- dúzia de palavras para pintar o teu retrato dentro de mim. Baptizar todas as palavras com nomes nunca antes pronunciados. Utilizar a única geografia: a do Sentir. Vestir cada palavra com os sentidos que a Alma esconde. Guardar cada palavra nesse retrato como um tesouro cuja chave guardo em mim.
Pintar retratos?
Hoje sei que desvendar caminhos onde essas palavras poderiam um dia ter passado: não existe. Descobri que não há lugar para as tuas palavras, mesmo as tuas palavras que vivem em mim.
Verificar que os sentimentos nunca podem vestir palavras vãs: uma verdade, dor.
Mas tu, Semeador, continuas, sem pressas e sem par. E cada semente que lanças à terra será a palavra nas mãos daquele que ousa Sentir. Tudo o que germinar será Dor ou Amor porque lugar certo e único não há algum. Nesta rota da vida vivida caminhamos descalços ou com sandálias de ouro: vamos para trás e para a frente de mãos dadas com a Alegria e a Tristeza – as únicas irmãs da Certeza.
E é de gelo o conteúdo dessa taça dourada, cálice da vida! E o gelo que cai pela madrugada ao teu coração vai voltar para que sintas essas lágrimas que um dia derramei pelas palavras que chorei e em ti não encontraram lugar.
Hoje, muitos anos volvidos num só dia, sei que há palavras anãs. Continuo a escolher palavras para te pintar. Hoje, já não escolho palavras pares…
E nessa taça dourada está o retrato que um dia pintei: não com palavras mas com lágrimas.

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