terça-feira, 7 de abril de 2009

Os dias escuros

“Uma pausa, hoje em dia, tem o nome de Morte. (…) A pausa, a espera – como estás longe Eurídice!” Luís Carmelo

Amanheceu escuro. Estranho dia: a noite não se despediu. Não há lágrimas: hoje o orvalho não namorou a Aurora matinal. Estranho dia: o dia não nasceu igual. Dia desigual.
Amanheceu escuro. Tão escuro.
Ao meio-dia, escuro. Muito escuro. A tarde, escura. Sempre escuro. A noite, escura. Sempre tão escuro. Muito. Estranho dia: o dia não nasceu e a noite não morreu.
Um infinitivo: Ser. Um tempo: presente mais-que-presente. Na primeira pessoa do singular: Sou.
Sou o escuro que não desapareceu: o dia que não nasceu e a noite que não morreu.
Sou: respiração crepuscular, descida íngreme. Sou a noite escura do dia, por Ser. Sou. Apenas sou.
Sou a pausa do dia e da noite. Pausa à espera de Ser.
A vírgula entre a noite e o dia.

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